Um Cerrado vivo, restaurado e cuidado pelas próprias mãos de quem dele vive. É com essa proposta que a Rede de Sementes do Cerrado (RSC) inicia uma nova etapa no fortalecimento da cadeia de restauração ecológica inclusiva. Por meio do projeto “Sementes do Cerrado: caminhos para o fortalecimento da cadeia de restauração ecológica inclusiva nos corredores da biodiversidade”, a RSC vai restaurar 63 hectares de áreas degradadas no corredor ecológico RIDE DF – Paranaíba – Abaeté, com envolvimento direto de agricultores, assentados, cooperativas e associações locais.
O projeto é financiado pelo Edital Corredores da Biodiversidade, da Iniciativa Floresta Viva, e, ao longo de 48 meses, atuará também nos corredores Veadeiros–Pouso Alto–Kalunga, Sertão Veredas–Peruaçu e Serra do Espinhaço, em territórios do Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais. Ao todo, serão 200 hectares restaurados, com foco na valorização do Cerrado, onde a recuperação da vegetação nativa caminha lado a lado com o fortalecimento da economia local e da identidade dos povos e comunidades tradicionais. “A restauração que propomos vai muito além do plantio de sementes. Ela tem como base a escuta ativa das comunidades, a valorização do conhecimento tradicional e a mobilização social em torno de práticas sustentáveis. Trabalhar com sementes nativas significa fortalecer vínculos com o território e abrir caminhos para a geração de emprego e renda para esses povos”, afirma Natanna Horstmann, coordenadora-geral do projeto e vice-presidenta da RSC.
Oziel Alves
Situado em Planaltina (DF), dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APP), o Assentamento Oziel Alves se destaca como um exemplo de resistência e inovação na agricultura familiar do Cerrado. No local, a restauração produtiva conhecida como sistema agrocerratenses, que integra a recuperação ambiental com a produção de alimentos, é uma prática concreta, fortalecida pela atuação da Associação dos Produtores Agroecológicos do Alto São Bartolomeu (APROSPERA), parceira da Rede de Sementes do Cerrado (RSC) em diversos projetos de restauração.
No Projeto Sementes do Cerrado, com o apoio da RSC, serão restaurados 6 hectares de áreas degradadas no assentamento, distribuídos em 13 propriedades. De acordo com Natanna Horstmann, a área escolhida está inserida na bacia do Ribeirão Pipiripau e já foi reconhecida pela Unesco por sua vulnerabilidade hídrica e importância estratégica para o abastecimento do Distrito Federal.
A ação contará com a supervisão técnica da RSC e o apoio do ICMBio, parceiro na prevenção de incêndios, no monitoramento da vegetação e na emissão de selos verdes para os produtores que adotarem práticas de conservação, agregando valor ambiental à produção local.
Assentamento Itaúna
Já o Assentamento Itaúna, localizado no município de Planaltina de Goiás, receberá ações de restauração em 57 hectares de áreas degradadas, principalmente dentro da Reserva Legal. O local apresenta extensos trechos impactados pela substituição da vegetação nativa por pastagens e pelo pisoteio de gado, o que dificulta a regeneração natural.
A RSC, com o apoio da Semeia Cerrado conduzirá a restauração com técnicas que incluem a descompactação do solo, o controle de espécies exóticas e a semeadura direta de sementes nativas, a depender das características de cada polígono de atuação. “A metodologia prevê o uso de equipamentos adaptados, e as sementes poderão ser incluídas manualmente em covetas ou ainda com o uso de trator acoplado a espalhadeira de calcário adaptada para dispersão em área total. Assim, pretende-se restaurar a RL do assentamento usando uma multiplicidade de técnicas que têm a semente como insumo-chave”, acrescenta Natanna Horstmann.
A restauração será conduzida com a participação ativa das famílias agricultoras.
Financiador
O projeto “Sementes do Cerrado: caminhos para o fortalecimento da cadeia da restauração ecológica inclusiva nos corredores da biodiversidade” é financiado pelo Edital Corredores da Biodiversidade, da Iniciativa Floresta Viva, promovida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A iniciativa tem como objetivo apoiar projetos de restauração ecológica em diferentes biomas brasileiros, com o apoio da Petrobras e do FUNBIO como parceiro gestor.
Texto: Thaís Souza
Edição: Maria Antônia Perdigão
Foto: Luana Santa Brígida
Publicado em 08/04/2025