Em parceria com a Araticum e o WWF-Brasil, a Rede de Sementes do Cerrado (RSC) realizou, nos dias 11 e 12 de setembro, o Encontro Regional de Coletores, que ocorreu paralelamente à programação do XI Encontro e Feira dos Povos do Cerrado – um dos principais espaços de debate e articulação política em defesa do bioma. Promovido pela Rede Cerrado, o evento reuniu em Brasília povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais de 12 estados brasileiros.
O Encontro Regional de Coletores contou com a presença de associados de diferentes redes, fortalecendo a articulação territorial e a troca de experiências sobre a cadeia de sementes nativas. Uma das atividades realizadas foi a oficina de Sistemas Agrocerratenses (SACE), promovida na sede da Associação APROSPERA, no assentamento Oziel Alves III. Conduzida por Paula Lima (Central do Cerrado), Vinícius Lima (APROSPERA e Rede Cora) e Viviane Evangelista (Instituto Federal de Brasília), a oficina abriu espaço para compartilhar experiências de manejo sustentável e práticas que conciliam conservação e geração de renda.
O SACE é uma proposta que alia restauração ecológica, produção sustentável e valorização de comunidades locais. Inspirado nas formações savânicas e campestres típicas do Cerrado, o sistema propõe uma forma de produzir a partir da lógica do próprio bioma, respeitando suas características naturais. Em vez de desmatar para implantar monoculturas, como na agricultura convencional, o SACE recupera áreas degradadas utilizando espécies nativas e promovendo o equilíbrio ecológico. “A ideia do Sistema Agrocerratense é conciliar produção e conservação, na perspectiva de que restaurar também pode gerar renda e dignidade para as famílias”, destacou Viviane Evangelista, professora do Instituto Federal de Brasília (IFB).
O Encontro contou com associados de diferentes redes, fortalecendo a articulação territorial e a troca de experiências sobre a cadeia de sementes nativas - Foto: Ana Lydia Gonçalves
Agricultores familiares são protagonistas na implementação do SACE, manejando a terra com equilíbrio entre uso e conservação: cultivam alimentos e, ao mesmo tempo, garantem a regeneração ecológica das áreas. “Ele é um sistema que tem um olhar profundo para o Cerrado, de a gente envolver a restauração, conciliar a restauração com a produção, seja de espécies nativas, seja de alimentos, para contribuir com a soberania alimentar da família, geração de renda e contribuir para que as famílias permaneçam em seus territórios com dignidade social e renda”, acrescenta Paula Lima, assessora de projetos da Central do Cerrado.
Coletora da Cooperuaçu, uma rede do Norte de Minas formada por quilombolas, indígenas, agricultores familiares e extrativistas, Santinha Barbosa da Mota pretende levar o que aprendeu sobre o SACE durante a oficina. “A minha experiência foi muito boa, e eu pretendo compartilhar lá no Norte de Minas, onde sou coletora de sementes e faço mudas. Quero levar essa experiência porque foi muito maravilhosa”, completou Santinha.
Participaram do Encontro Regional de Coletores representantes da Associação dos Produtores Agroecológicos do Alto São Bartolomeu (Aproospera), Associação Quilombola Kalunga (AQK), Rede de Coletores Geraizeiros (COOCREARP), Rede de Sementes do Oeste da Bahia (ARSOBA), Associação de Coletores Cerrado de Pé, Assentamento Chapadinha, Cooperuaçu, COOPITAUNA, Rede Flor do Cerrado, Ressemear e Rede Sementes do Paraíso.
O Encontro Regional de Coletores de Sementes é uma atividade vinculada ao projeto “Sementes do Cerrado: caminhos para o fortalecimento da cadeia de restauração ecológica inclusiva nos corredores de biodiversidade”, financiado pela Iniciativa Floresta Viva. O evento também conta com o apoio financeiro do iCS - Instituto Clima e Sociedade e da Araticum - Articulação pela Restauração do Cerrado.
Sobre o Projeto
A atividade é vinculada ao projeto Sementes do Cerrado: caminhos para o fortalecimento da cadeia de restauração ecológica inclusiva nos corredores de biodiversidade - Foto: Ana Lydia Gonçalves
Executado pela RSC, o projeto visa restaurar 200 hectares com espécies nativas do bioma, promovendo a inclusão produtiva por meio da cadeia das sementes e da mobilização comunitária. A iniciativa irá implementar uma Unidade Demonstrativa de SACE no Assentamento Oziel III, onde seis hectares serão restaurados com foco na geração de renda, soberania alimentar e conservação.
Vale destacar que o projeto é financiado pelo Edital Corredores da Biodiversidade da Iniciativa Floresta Viva, promovida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A iniciativa tem como objetivo apoiar projetos de restauração ecológica em diferentes biomas brasileiros, contando com o apoio da Petrobras e do FUNBIO como parceiro gestor.
Publicado em 16/09/2025